Mar e rio se unem num abraço e, como a celebrar o perfeito enlace, desenham e redesenham a geografia do lugar. O turismo ainda engatinha, mas os visitantes já começam a descobrir os caminhos para o lazer tranquilo, seja nas águas límpidas ou em terra firme à beira-mar
Quando abraçamos alguém, queremos demonstrar nosso afeto. Porém, quando esse carinho se dá entre mar e rio, o que se pode dizer? A natureza é sábia, afirmam os nativos de Barra Nova para justificar a divina união do imenso Atlântico com o pequeno Rio Choró. O resultado é um recanto de paz e beleza matizado pelo sol.
Na praia do litoral Leste cearense, situada no distrito de Jacarecoara, em Cascavel, o maior atrativo são as piscinas que se formam com o vaivém da maré. Entre subidas e descidas, nativos apaixonados pelo lugar e turistas ávidos por descobri-lo se jogam às águas para banhos refrescantes. Amantes de kitesurf também chegam e pintam o céu com suas pipas multicoloridas.
A diversão se confunde com descobertas em passeios de barco pelo Rio Choró, com seu verde manguezal. Em veículos 4×4 é possível desbravar dunas e falésias que guardam histórias de piratas que pisaram na região num passado distante. No caminho dos novos visitantes, coqueirais e cajueiros escondem lagoas perenes ou temporárias de águas cristalinas, convidativas a mergulhos energizantes.
Dizem que é possível conquistar alguém pelo estômago. Barra Nova é a prova dessa afirmação. A praia conta com poucas barracas, mas os comerciantes se esforçam para oferecer, em receitas que dão água na boca, o melhor daquilo que os pescadores trazem do mar em suas jangadas, em especial a arraia, motivação para o festival gastronômico que já virou tradição na praia. E ainda tem o saboroso café da manhã da Hercília, com delícias para começar o dia feliz.
Silêncio e tranquilidade
Barra Nova, a 12 quilômetros de Cascavel, começa a receber visitantes, atraídos pela paisagem desenhada por mar e rio
Piratas teriam sido os primeiros a pisar nas areias de Barra Nova. Naquele tempo, a praia ainda nem tinha ganho este nome. Isso só aconteceu séculos depois, com a mudança do curso do Rio Choró. Há quem diga que a denominação se deve ao formato da barra, que muda a cada maré. De todo jeito, a praia é um encanto, oferecendo piscinas naturais para banhos tranquilos e relaxamento.
Na vila à beira-mar são apenas 3.700 habitantes. O clima é de calmaria e paz, só interrompido pela euforia da chegada de visitantes, um pouco mais intensa nos fins de semana. Mas, logo tudo volta ao que era antes. O silêncio e a tranquilidade retornam à cena, como deve ser sempre em Barra Nova. Os nativos recebem bem os forasteiros, mas não abrem mão da preservação.
O dia nasce e o ponto de encontro é a praia de águas límpidas e areia branca. A ordem é desfrutar do lugar em harmonia com a natureza. No amplo espaço, pessoas chegam ao longo do dia e se acomodam, curtindo os sons da criação. Na areia ou na água, esportes diversos reforçam a alegria de conhecer ou rever Barra Nova e interagir com sua gente hospitaleira.
Impressiona e encanta na praia a mudança da geografia ao bel-prazer da maré, que parece pedir reverência ao seu poder de transformação. Piscinas naturais surgem na paisagem para um banho refrescante. Quem não quer ficar parado, aproveita para praticar hidroginástica e natação.
As barracas de praia ainda são poucas. Apenas sete fazem o receptivo dos visitantes. Contudo, a simpatia no atendimento e o cardápio com pratos à base de peixes e frutos do mar compensam a estrutura ainda em formatação. A clientela se sente à vontade e se delicia com os sabores de Barra Nova, em especial a exótica arraia, encontrada em abundância naquele pedaço da costa cearense. O pescado vira iguaria à mesa na praia a cada mês de julho, quando acontece o Festival Gastronômico da Arraia.
Mas, a principal referência de boa mesa em Barra Nova é a potiguar Hercília Duarte Amorim. Há quatro anos, ela abandonou São Paulo e se estabeleceu na praia, pela qual confidencia sua paixão. Aprimorando seus dotes em culinária, graças a cursos de aperfeiçoamento, a ex-gerente de vendas na selva paulistana tornou real o sonho de "virar" uma espécie de mestre cuca em café da manhã.
Hoje, saborear o café da manhã na pousada domiciliar da Hercília é quase um dever em Barra Nova. Mas, a tarefa vira prazer diante da mesa farta de guloseimas regionais, como tapiocas recheadas, sopas, sucos naturais, o "Gostosinho da Hercília" e receitas como o bolo nutritivo, com cenoura, beterraba e laranja com bagaço, uma delícia! A casa abre de domingo a domingo.
Kitesurfistas também vêm de longe para conhecer Barra Nova. Os ventos e as águas do lugar propiciam a prática do esporte e a notícia tem se espalhado mundo afora. Eles ainda são em número reduzido na praia, mas o suficiente para salpicar os céus com as cores vivas das pipas. Sobram saltos e outras manobras radicais que prendem a atenção de quem aprecia esportes ao mar impulsionados pelo vento. A presença cada vez maior dos esportistas já fez surgir até uma escola de kite à beira-mar.
Tudo é observado de perto pela enfermeira aposentada Salete Parise. Gaúcha, amante do sol e do calor, ela se sente adotada por Barra Nova, onde chegou há nove anos, fixou morada e nem pensa em ir embora. Virou guardiã da praia. Volta e meia está às voltas com atividades ligadas à proteção do meio ambiente e à limpeza do lugar. Quem conhece Salete, agradece a dedicação, que ela garante: "tudo é pela preservação desse pequeno paraíso".
Diversão
Além das benesses das águas calmas, Barra Nova oferece, para lazer e entretenimento, o passeio pelo Rio Choró no barco Gaivota do Mar, do simpático "Seu Dedé". A embarcação deixa a barra e avança pelo leito do rio num percurso de cerca de uma hora, com direito a parada para banho e esquibunda, além de apreciação do cenário, que reúne dunas branquíssimas e o manguezal verdejante, um berçário natural de garças que não dispensam sobrevoos ao entardecer.
Outra atração é o passeio de buggy pelos arredores da praia até a vizinha Águas Belas. No caminho do desbravador há dezenas de lagoas de águas cristalinas protegidas por coqueiros e cajueiros. Dunas e falésias de pequeno porte completam o visual. Do ponto mais alto das dunas, o cenário fascina e fideliza o viajante para retornos constantes ao destino.
Na Trilha do Coqueiro, o turista atravessa o Túnel do Cajueiro, confere falésias virgens, vegetação nativa quase intocada e alcança o vilarejo de Barra Velha, apontado como o único lugar no mundo onde homens e mulheres pulam a cerca e não há brigas ou desentendimentos. Mas, é bom deixar claro! Não se trata de traição entre casais, como a expressão "pular a cerca" poderia supor.
Em Barra Velha, as cercas que circundam as casas e demarcam propriedades não têm portões para evitar a fuga de animais, principalmente aves como galinhas e patos. Assim, é preciso pular a cerca para entrar ou sair. Ninguém reclama dos pulinhos várias vezes ao dia, enquanto o viajante se diverte com mais essa "invenção" cearense.
O passeio prossegue e, antes da chegada a Águas Belas, a parada é na Sorveteria El Shadai para provar o sorvete de murici. Ao lado fica a Capela de Nossa Senhora de Fátima. Se o retorno a Barra Nova acontecer no fim da tarde, o visitante aproveita para curtir o espetáculo do pôr do sol à beira-mar. Logo a noite chega e o tempo é de total calmaria na praia. O bate-papo entre amigos ou o descanso nos locais de acomodação são os melhores programas.
No novo dia, Barra Nova apresentará novos cenários, propiciará novas descobertas, talvez novas paixões. No momento do retorno para casa fica o desejo de voltar em breve e curtir de novo o roteiro tranquilo em Cascavel. Para minimizar a saudade, é só levar um pedaço do destino. No caminho há exposição permanente de bonitos utensílios em barro e cipó a preços acessíveis.
Saiba mais
Localização:
Barra Nova, em Cascavel, fica a 70 quilômetros de Fortaleza.